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quarta-feira, 27 de abril de 2011

O doce sabor da lembrança


O tempo corre mais célere do que nunca neste ano. Compromissos pipocam em meu colégio, em meu Capítulo e também em minha vida social. Não há lacunas vazias, não há pausas para o ócio. Entretanto, um fato me abriu os olhos. Uma leitora manifestou, tímida, seu apreço por meus relatos, na viagem de volta a Santa Maria.
"Vi que você é real"
Receber um comentário desses é indescritível, ainda mais para mim, que imaginava meus leitores como fictícios e não-reais. Enfim, reservarei um tempinho para retribuir a essas pessoas que concretizam-se a minha frente e que gostam de saborear minhas singelas palavras.

Falando em saborear... Estou com o armário abarrotado de chocolates e bombons. Minha boca enche d'água só em descrevê-los. E não sou o único a ter a gula fomentada nesse último feriado. Não me deterei em ressaltar o valor cristão da Páscoa, mas comentarei os sentimentos que os amados e apreciados chocolates andam me despertando.
O doce e indescritível sabor que acaricia meu paladar não o faz apenas em sentido gastronômico, mas também em sentido psicológico. Explicarei.

No sábado desse feriado, fui abordado pro minhas madrinhas que, imediatamente ao me verem, já deram-me seus ovos de Páscoa de presente. O primeiro pensamento: " Uhul, gordices para a semana inteira". O segundo: "Droga, sempre ganhava ovos de Páscoa no domingo, depois de sair correndo atrás das pegadinhas do coelho.". Terceiro pensamento: " Cala a boca, Eduardo idiota, tu já tens dezesseis anos e não corre atrás de pegadinhas." Segui até o fim da noite na estrita racionalidade necessária à minha idade. Dormi.

Domingo amanhece, acordo na casa de minha vó. Ao levantar, corro para abrir a porta, num instinto infantil de buscar o ninho de Páscoa. Tudo vazio. Sem pegadas. Sem ninho. Sem infância. Sem sorrisos. Até que a voz da racionalidade me chamasse novamente, e me fizesse notar que eu não deveria e nem podia estar esperando por nada diferente daquilo. Não me contive. Fui perguntar ao Lorenzo, meu primo menor:

- Feliz Páscoa, Lorenzo! E o coelho, já deixou teu ninho?

O pirralho olhou-me com uma cara de poucos amigos e de nítida irritação:
- Eu já sou grande demais para acreditar em coelhinho, Du! Nem tenta mentir pra mim!

Tudo bem. Talvez a criança da história fosse realmente eu. O dia passou, a noite chegou, voltei para SM (o encontro com a leitora aqui ocorreu) e dormi o sono dos saudosistas.

Segunda amanhece. Aula.
Provão de redação.
Tema: O Lugar dos sonhos.
Não sei como, nem por que exatamente, mas meu lápis escrevia praticamente por conta. Descrevi um lugar rural, repleto de pomares, muitíssimo semelhante à granja de meu falecido avô.

Para tudo!

Logo eu, que sou, aberta e reconhecidamente, urbano em essência, descrevendo um lugar ideal no CAMPO?

A explicação está no ninho inexistente de meu domingo pascal. Abriu uma fenda irracional de saudade em meu peito, que trouxe consigo uma onda nostálgica de tudo que se relacinava com minha infãncia, inclusive as alegres tardes que passava entre as bergamoteiras na granja do vô. Ahhh! Falando em bergamotas, me abriu o apetite! Vou fazer um lanchinho! Chocolates, aqui vou eu!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Prosaico para você, virtuoso para mim

Não é necessário citar as circunstâncias e estado que me impelem a escrever esse post, mas sim o estado de êxtase momentâneo que me embriaga, e que me absorve em meio a memórias perdidas de caminhadas reflexivas.

O que me impressiona, mais do que minha própria complexidade mutante, é a capacidade sinistra de mascarar e dissimular de algumas pessoas, em oposição à admirável e simples aptidão de outras à humildade, gratidão e veracidade de gestos.
Não se trata de uma postagem vazia, mas também de nenhuma crônica estrondosa. O que me motiva a escrever a essa hora e nesta ocasião, é que um fato de hoje, vespertino e tolo, ainda segue dando voltas em minha consciência. A minha vizinha mendiga volta a ser tema recorrente em minhas postagens.

Peço desculpas aos que julgarão a personagem sem graça e repetitiva, mas a culpa foge de meus braços quando os atos desta mendiga tomam vida e dançam em minha cabeça como exemplos da pureza extinta deste mundo civilizado, o qual atesta a selvageria nunca antes vista.

O fato não é surpreendente, sobrenatural ou inverossímil aos olhos racionais, mas com um olhar mais vigilante, pode ser tido como metonímia viva de virtudes suprimidas na vida dos maratonistas da rotina diária.

Cessando com o ciclo cansativo que tracei, revelarei a surpresa nada inacreditável que vivi hoje, mas ainda assim admirável em essência. Voltava do colégio, com alguns colegas, e imerso em algum assunto relacionado à junção de hoje à noite, ouvi um “oi” entusiasmado, de um dos bancos do calçadão. Era a mendiga Maria – como descobri que a chamavam - dando-me um vigoroso cumprimento acompanhado de um sorriso imaculado, ainda que meus passos denotassem uma pressa antipática. Não trato de uma admiração causada por uma crônica premiada pela descrição de um ato virtuoso dela. Ela não deve nem ter ideia de que é a personagem principal do Concurso Literário de dois mil e dez. Entretanto, ela lembrou-se dos cumprimentos e desejos de “bom dia” freqüentes que eu direcionava a ela, quando a via acordada, no colchão afofado ao lado da farmácia. E mesmo realizando atos banais, diariamente, recebi o reconhecimento, nada banal , de alguém cuja vida não concebe trivialidades, porque cada dia é uma batalha distinta.

Confesso que estou dando a concepção de “atitudes notáveis e relevantes” a atos antes caracterizados por “prosaicos”. Não se trata de uma inversão de valores de minha parte, mas do esquecimento momentâneo de o quanto alguns versos ingênuos podem variar o humor das pessoas, e principalmente o meu.