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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Assustado, aliviado

Padeço olhando para o céu,
procurando alguma estrela que me diga
o porquê de certas coisas nesse caminho sinuoso da vida
os passos são trilhados
tão cautelosos, pensados, sábios
mas os ruídos das folhas secas, benevolentes,esmagadas pelo caminho
ainda são mudos diante do caos que me tenta.

Resisto. Tento iludir o tempo que vai,
tento enganar o mal que me assombra,
mas são espectros de um sonho ruim
que rondaram meu caminho por estes tempos,
e que, inescrupulosamente, abalam minha solidez.
Rugem, arranham, enterram os ossos de um dia
que, por Deus, não voltará mais.

Se pudesse mudar algo, chagas não abririam mais
nenhuma lágrima brotaria, nem clamores seriam emanados,
mas corrigir o quê, exatamente, nem meus prantos respondem.
São falhas vacilantes, que escorrem de rupturas invisíveis
na incrível fortaleza de minha integridade.

Da terra exulta a certeza de que o mal não se concretizou,
ainda que tenha causado sibilos urticantes na alma de quem os ouviu.
E de que a agonia suposta foi, sem dúvidas,
melhor que a verdade que jamais aconteceu.
Durmo agora, implorando para não apagar, ainda estou assustado, mas aliviado.


Quem entender, e não serão muitos, não compreenderá. Mas as palavras são, por vezes, de sentido tão inatingível quanto os percalços da vida. Não questionem o real sentido delas, foi nada mais do que a excreção de alguns resíduos de minha alma, que me incomodaram por um tempo, nada mais do que isso.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sinal vermelho para a falta de polidez

Eu estava voltando para casa, após as costumeiras cinco horas de aulas matinais. Parei ante o demorado semáforo da Rio Branco. O sinal estava aberto. Um senhor, de calças largas, bonezinho antiquíssimo, cabelos totalmente esbranquiçados e no mínimo setenta primaveras, ignorou a sinalização. E foi, no ritmo de seus passos senis, atravessando a via. A rua, para quem não a conhece, é um tanto larga e a faixa de segurança de uma travessia como essas no centro de Santa Maria está longe de ser segura.

Assim, os fatos apontam para uma tragédia, e tinha tudo para ser. Não o foi no sentido primário da palavra, em que se prevê um desastroso acidente, culminando em ferimentos e consequências físicas ao indivíduo. Mas foi, sim, uma tragédia moral, em que eu vi o motoqueiro que vinha veloz, desviar perigosamente do idoso e cuspir-lhe uma série de difamações verbais que prefiro não transcrever, deixando-as putrefarem esquecidas no asfalto maldizente.

O velho saiu cabisbaixo, os ouvidos, embora fatigados pelo longa vida, não o pouparam de compreender as expressões do motoqueiro. Sua vida talvez tenha perdido ainda mais as cores que já esmaecem pelo tempo, e que vão se acinzentando ainda mais por tais atos odiosos.

Meu relato não é a defesa da imprudência do velho, porém acredito que esta foi nada mais do que isto: uma imprudência. Faço, sim, uma ressalva pela boa educação, e quando esta não é possível, a abdicação dos atos repudiosos, que não tem outro fim senão transferir seu índice saturado de estresse aos demais indivíduos que os sofrem.
Afinal, não é tão difícil manter-se em silêncio quando não for razoável se manifestar de forma polida e construtiva. Uma vez que não consta em nenhuma cláusula da vida o direito de destruir ou rebaixar o moral de nossos semelhantes com explosões de nossa própria cólera.

Algo que de mim mereceu um olhar mais atencioso , talvez possa servir para algum pensamento profícuo em meio às copiosas ações involuntárias dessa nossa rotina.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NOVIDADE

Consegui agora colocar um contador de visitantes no meu blog,
a partir de agora, os acessos ao meu domínio serão contados. :D

Clamores da Alma

Existem pessoas que permanecem impenetráveis. Imergem para sempre no oceano inóspito do racionalismo irresoluto. Uma vida sem o uso da razão é, sem dúvidas, improvável de ser vivida. Entretanto, o uso infinito e descontrolado dessa essência racional sufoca a alma. Impede-nos de perceber os deleites sensíveis da vida; vai matando, sem escrúpulos, nosso instinto humano e transformando-nos em máquinas vivas. Para permanecermos vivos interna e externamente, às vezes é preciso, como farei agora, embeber o espírito no bálsamo embriagante do sentimentalismo e entremear nossa alma às dos outros sujeitos e objetos.

Analisemos, por exemplo, em puro devaneio, uma simples rosa vermelha, inerte, que apenas sacoleja lânguida ao embalo sibilante do vento. Neste momento, a abelha adornada de um milimétrico gradiente dourado repousa nesse leito real, sugando para si o néctar doce que a rosa resguarda. Findo o ato, transporta a essência colhida ao reduto do trabalho de suas companheiras, onde o cúmulo do coletivismo transforma o bruto no líquido. O suave pólen tornando-se o mais puro doce da natureza.

À medida que esses fatos acontecem, algum homem incompreendido vai a um armazém de esquina. Com uma introdução lacônica, rapidamente adquire o recipiente contendo a chave para o desejo gustativo repentino. Em sua vida de ritmo céleree a amargo, momentos como aquele eram raros. O paladar adquiria sensibilidade incomensurável a cada dose tragada do mel. No instante em que digeria o doce, a coragem submergia de seu cônscio e seus pés o direcionavam à casa da amada.

Enquanto esperava a resposta ao toque na campainha, suas veias ferviam pulsantes. A porta se abriu. A rosa que levava na mão tornou-se, no instante do choque de olhares, o fragmento mais puro subtraído e esculpido do coração do amante. As emoções entraram em conflito e as consequências se resumiram a um beijo adocicado ainda pelo mel.

Era a prova empírica de que a rosa, a abelha e o mel estavam com as almas em júbilo, comungadas às almas dos amantes. Aqueles, objetos neutros que, agora, representavam a entropia ativa do amor em expressão, da vida em atividade. Estes, o sentimentalismo sincero, a despreocupação com o mundo exterior; a felicidade em pleno protesto às admoestações que o "modernismo" trazia aos sorrisos, cada vez mais raros e suprimidos em meio ao caos do estresse humano.

Portanto, por mais que sejam só devaneios, parece-me claro que devaneios têm, também, alma; pedindo para ser ouvida. A vida tentando nos frear e clamando por atenção aos detalhes castos que ignoramos despercebidamente. Talvez devêssemos ouvir o tal sentimentalismo e dar a nós mesmos a chance de reduzir o ritmo estritamente racional e aderir ao ritmo do sentimentos. Visto que somos algo muito maior que ações mecânicas pré-planejadas. Somos amantes, somos amigos, somos acaso e somos, acima de tudo, a alma em essência.